terça-feira, 23 de abril de 2013

chrysler 300c srt8














Às voltas com a concorrência e problemas internos, a indústria americana já viveu dias melhores. As dificuldades, no entanto, parecem funcionar como um catalisador de projetos diferenciados. Atrás das vendas e do prestígio perdido, as fábricas tentam reviver os anos dourados com reedições de modelos que fizeram sucesso e se tornaram ícones do passado. A GM constrói carros como o Chevrolet Camaro, a Ford apresenta o Mustang GT500 e a Chrysler aposta no estilo dos legendários muscle cars dos anos 60. O sedã 300C, lançado em 2003 com a aura de ter resgatado o carisma americano, agora ganha uma versão anabolizada que lembra aqueles carrões que hoje em dia só se vêem em desfiles de fim de semana na cidade de Detroit - e que ninguém imaginava que a indústria americana voltasse a fazer. Ele simplesmente tritura o guia de etiqueta do carro ecologicamente correto.

Corredor de rua

Se você achava a versão original do 300C (equipada com o motor Hemi V8 5.7) mais que suficiente para honrar a tradição americana, espere para ver o que os americanos fizeram com o 300C SRT8. Ele é o primeiro representante de uma nova linhagem da Chrysler, a SRT. A empresa criou um departamento de preparação, assim como a AMG da prima Mercedes, para transformar seus modelos. A sigla SRT vem de Street and Racing Technology, tecnologia para as ruas e para as corridas.

Visualmente, as mudanças não são radicais. A carroceria do sedã ficou mais baixa (1 centímetro) e as rodas, maiores (no lugar das de aro 18, entraram as de 20 polegadas). Na traseira, um spoiler tem função estética, mas também prática. Segundo a DaimlerChrysler, ele aumenta em 39% a pressão aerodinâmica sobre o eixo. Internamente, em vez de imitação de madeira, alumínio reveste o console central. E os bancos são envolventes e forrados de couro e camurça, com a inscrição SRT8 gravada nos encostos.

No painel, o velocímetro vai até 300 km/h. Mas a própria fábrica anuncia uma velocidada máxima de 270 km/h.O que de fato significou uma velocidade real de 268,1 km/h. Números à parte, posso dizer que, a partir das 3 000 rpm, o desempenho do 300C SRT8 entra em sincronia com os batimentos cardíacos do motorista.

O motor Hemi V8 5.7 cedeu lugar ao novo Hemi V8 6.1, filho da mesma matriz, mas de temperamento mais rebelde. Enquanto o primeiro gera 340 cv a 5 000 rpm, o segundo entrega 431 cv a 6 000 rpm. E o torque pula de 53,5 mkgf a 4 000 rpm para 58 a 4 800. Para conseguir maior torque e potência, os engenheiros mexeram não só no deslocamento (aumentando o diâmetro dos cilindros em 3,5 milímetros). Eles elevaram a taxa de compressão de 9,6:1 para 10,3:1 e redesenharam o cabeçote de alumínio e os dutos de admissão e de escape, mas ainda assim não exploraram todas as possibilidades da tecnologia atual. Os coletores não são variáveis e apenas um comando simples, com acionamento por varetas, no bloco, rege solitariamente os movimentos das válvulas, à razão de duas válvulas por cilindro. Componentes de aço como virabrequim, bielas e pistões tiveram de ser reforçados para suportar as violentas explosões nas câmaras, assim como o próprio bloco do motor. Também o cárter foi modificado para proporcionar lubrificação mais eficiente em altos regimes. A relação peso/potência do 300C, de 4,73 kg/cv, é ligeiramente melhor que a da versão mais esportiva do Porsche Boxster, a S 3.2, com 4,80 kg/cv.

Asfalto derretido

O sistema politicamente correto MDS (Multi-Displacement System), que no motor 5.7 corta a alimentação de metade dos cilindros quando o motorista não precisa de força plena, foi deixado de lado nesta versão. Economia não é com ele. Em nosso teste, o SRT8 fez as médias de 4,5 km/l na cidade e 8,4 km/l na estrada.

O 300C SRT8 pode ser intrépido, mas não bruto. Lá fora, enquanto o motor derrete o asfalto, a suspensão macia dispensa tratamento gentil aos passageiros o tempo todo, sem no entanto sacrificar a determinação nas curvas. Os pneus largos deixam o sedã bem assentado. Na versão SRT8, os pneus 225/60 R18 foram trocados pelos 245/45 R20 na frente e 255/45 R20 atrás.

O câmbio automático é tão rápido nas trocas que a intervenção do motorista pode desafinar a harmonia ao fazer mudanças manuais, possíveis pelo sistema AutoStick. Na contramão, a direção indireta não tem pressa de manobrar, apesar de exigir esforço não usual para os padrões da casa.

O acabamento é um luxo só. Além dos bancos elétricos, volante, alavanca de câmbio e puxadores das portas são revestidos de couro. O ar-condicionado, com ajustes independentes esquerda/direita, tem sensor infravermelho para medir a temperatura da cabine. Para os ouvidos, um sistema da Boston Acoustics com 322 watts, distribuídos por 13 alto-falantes e um subwoofer. Não faltam piloto automático, faróis de xenônio, computador de bordo e sistema auxiliar de estacionamento. Já o dispositivo que mede a pressão dos pneus não pode ser considerado luxo. Além de item de segurança num carro de alta performance, ele é necessário porque o sedã não tem estepe. No lugar, sob o assoalho do porta-malas, a fábrica disponibiliza um pequeno compressor e um tubo de selante de pneus para as emergências.

Com tamanha disposição para acelerar, na hora de parar o SRT8 responde com o mesmo apetite. Estabilizado a 80 km/h, o sedã só precisou de 25,2 metros para frear. O sistema de freio, com discos ventilados nas quatro rodas, foi desenvolvido pela Brembo, a fornecedora dos carros da Ferrari.

Na versão SRT8, o 300C é a manifestação explícita da exuberância, tanto no desempenho como no consumo, no conforto ou na segurança. Não seria no preço, portanto, que esse sedã mostraria um caráter mais comedido. Ele custa 244 900 reais, enquanto seu irmão mais bem-comportado, o 5.7 V8, sai por 185 000 reais.




300C SRT8 - R$ 244 900
Este Chrysler é exagerado em tudo: no luxo, no desempenho e no preço.

SUSPENSÃO
Com sistema duplo A, na frente, e multilink, atrás, a suspensão garante equilíbrio sem comprometer o conforto a bordo.
Avaliação: muito bom

AO VOLANTE
O volante exige certo esforço esportivo e suas respostas são lentas.
Avaliação: bom

CARROCERIA
Os designers foram felizes ao recriarem o estilo dos muscle cars, que nesta versão, com rodas maiores, ficou ainda melhor.
Avaliação: muito bom

MOTOR E CÂMBIO
Essa dupla trabalha em sintonia. De um lado, o motor tem potência de sobra e, de outro, o câmbio é rápido nas trocas.
Avaliação: muito bom

MERCADO
O 300C SRT8 é um carro de nicho e chega com endereço certo: as garagens de que gosta de feras em pele de sedã. Avaliação: bom

Ficha técnica e teste

Bolso
consumo rodoviário, o carro roda a maior parte do tempo em velocidade constante. Se o motorista não se cuidar, o consumo aumenta facilmente e a média fica ainda mais baixa.
Preço do carro: 244 900
Garantia: 2 anos sem limite de km
Número de concessionárias: 27
Consumo cidade (km/l): 4,5
Consumo estrada (km/l): 8,4
Tanque de combustível/autonomia (l)/(km): 72 / 604,8

Conforto
Ar-condicionado/direção hidráulica: s / s
Rodas de liga leve/sensor de estacionamento: s / s
CD player/comandos no volante: o / o
Vidros/travas elétricos: s / s
Rodas de liga leve/teto solar elétrico: s / -
Banco traseiro rebatível 2/3 / 1/3: - / -
Câmbio automático/cruise-control: s / s
Computador de bordo/bancos de couro: s / s

Segurança
ABS/BAS/EBD: s / s / s
Controle de estabilidade/faróis de xenônio: s / s
Airbags (frontais/laterais/cabeça): s / s / -
Encosto de cabeça/cinto de 3 pontos para 5º passageiro: s / s
Imobilizador/monitor de pressão dos pneus: s / s

Desempenho
Nas velocidades mais altas, o nível de ruído aumenta em razão do vento batendo na lateral da carroceria. O ronco do motor fica em segundo plano.
0-100 km/h (s): 6,1
0-1000 m (s/km/h): 14,1/164,5
3ª 40 a 80 km/h (s): 2,4
4ª 60 a 100 km/h (s): 3,5
5ª 80 a 120 km/h (s): 3,5
Velocidade máxima (km/h): 268,1
Frenagem 120/80/60 km/h a 0 (m): 15,4 / 25,2 / 56,7
Ruído interno PM/RPM máx (dB): 43,6 / 72,1
Ruído interno 80/120 km/h (dB): 56,0 / 62,2
Velocidade real a 100 km/h (km/h): 95

Ficha técnica
Os discos de freio são ventilados nos dois eixos. Na frente, eles têm 36 centímetros de diâmetro e, atrás, 35 centímetros.
Motor/posição: dianteiro / longitudinal
Construção/cabeçote/cilindrada (cm3): V8 / SOHC / 6 059
Diâmetro/curso (mm): 103,0 / 90,9
Taxa de compressão: 10,3:1
Potência (cv a rpm) (A/G): 431 a 6 000
Torque (mkgf a rpm): 53,5 a 4 600
Câmbio (tipo/marchas/tração): automático / 5 / traseira
Direção (tipo/nº voltas): hidráulica / 2,5 voltas
Suspensão dianteira: independente tipo duplo A
Suspensão traseira: independente tipo multilink
Freios (tipo/dianteiro/traseiro): hidráulico / disco ventilado / disco ventilado
Pneus: 245/45 R20 (diant.), 255/45 R20 (tras.)

Dimensões
Comprimento/entreeixos (cm): 4 999/ 3 048
Altura/largura (cm): 1 483 / 1 881
Porta-malas (litros): 420
Peso (kg): 2 040
Peso/potência (kg/mkgf): 4,73
Peso/torque (kg/mkgf): 38,1
Diâmetro de giro (m): 11,9

Os rivais
- Volvo S80 V8: O novo S80 (que está chegando ao nosso mercado) é o modelo que melhor alinha com o 300C SRT8. É igualmente sedã, tem motor V8 e deve custar 260 000 reais (preço estimado). Ele tem menor potência, mas compensa essa diferença (e a do estilo mais discreto) com muita tecnologia.
- Sedãs alemães: Na faixa de preço entre 230 000 e 270 000, o consumidor tem a opção de sedãs como o Audi A4, o BMW 325i, com motores de 218 cavalos, e o Mercedes C350, com 272 cavalos. Todos com visual bem mais comportado que o do 300C SRT8.

Veredicto
Ele traz para o presente o estilo marcante dos muscle cars americanos dos anos 60 e, assim como seus antepassados, oferece boa relação custo/cavalo de potência. O que não combina com os dias de hoje é o consumo elevado. Outros V8 atuais conseguem ser mais econômicos..

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